quinta-feira, 20 de maio de 2010

Daniel Alves, um vampiro baiano a serviço da seleção brasileira

O Barcelona conquistou, no domingo, o bicampeonato espanhol. Foi o 20º título nacional do clube catalão contra 31 do rival Real Madrid. E um brasileiro que vai à Copa participou da conquista: o vampiro baiano.

“Desde pequenininho, ele era diferente dos outros”, afirma o pai Domingos Alves.

“Era o brinquedo de nossa casa, porque, pequeninho, diferente dos outros, olhos verdes, aquela coisa toda”, lembra Maria Lúcia, mãe de Daniel Alves.

“Ele, pequenininho, eu lembro, seis anos, ficava riscando a parede, dizendo que era autógrafo quando ele ficasse famoso. Riscava caderno da gente”, conta Domingos Alves Jr., irmão de Daniel Alves.

“Ele sempre foi esse cara iluminado, de sempre estar no lugar certo, na hora certa”, acredita Ney Alves, irmão de Daniel Alves.

Por exemplo, Joanesburgo, semifinal da Copa das Confederações, contra a África do Sul. Quarenta e três minutos do segundo tempo, Daniel Alves tinha acabado de entrar e na lateral-esquerda.

“Quando saiu a falta, fui correndo pegar a bola. Falei: ‘Essa é minha’. A cara era de concentração”, revela Daniel Alves.

“Um amigo falou que é o vampiro baiano, a cara de vampiro”, diverte-se Nei.

“Uma cara de mau, concentrou tudo, todo estresse estava ali naquele momento”, analisa Maria Lúcia.

Um herói explosivo, um cidadão silencioso. “Fala muito pouco, quase não fala”, confessa Nei.

E quando fala, às vezes habla. Portunhol com acento baiano. “Esses ‘recuerdos’ são pra sempre”, afirma Daniel.

Como? “Quando vou dar entrevista para os brasileiros, às vezes as palavras fogem, somem”, admite o jogador.

Sempre falou pouco, sempre viveu com pouco. “Meu pai sempre foi agricultor e a infância da gente era ajudá-lo lá na roça”, relembra Nei.

“Às 4h da manhã, a gente acordava, ia pra roça às 5h da manhã”, confirma Júnior.

“Trabalhava muito, de domingo a domingo. São seis meses de água e seis meses de seco, aí é complicado”, conta o pai Domingos.

Na terra seca do sertão baiano, Seu Domingos dava um jeito de plantar e colher melão e cebola pra vender. E tinha esperança de que, num campo de terra e pedra, nasceria a semente mais valiosa.

“Com 10 anos de idade, ele já jogava no time dos adultos”, revela a mão Maria Lúcia.

Jogava no time do pai, o Palmeiras, de Salitre, um povoado a 30 quilômetros de Juazeiro, interior da Bahia.

“Como eu era filho do treinador, tinha que jogar. Ele adorava que eu jogasse de atacante, sempre me colocava de atacante”, afirma Daniel.

Morava numa casinha que, hoje, o pai Domingos deixou para os parentes.

Entre peladas poeirentas e o sonho de jogar no Juazeiro, da segunda divisão baiana, foi soldado no cinema, figurante do filme "Guerra de Canudos".

“Ele ganhava R$ 5 e eu, R$ 15”, lembra Júnior.

Hoje, protagonista da bola, Daniel filosofa. “Todos nós um dia fomos figurantes de alguma coisa”.

Aos 12, saiu da roça e foi jogar nas divisões de base do Juazeiro. Aos 14, foi levado pra Salvador, pelo Bahia, e chegou ao profissional aos 17.

“O titular machucou, o reserva parece que tomou o terceiro cartão e tinha que ser ele, não tinha outro”, revela Seu Domingos.

“Eu achava que era brincadeira. Ele falou: ‘Não, não, estou falando sério”, diz Daniel.

“A primeira competição que ele disputou pelo Bahia já pegou seleção baiana. Aí, foi disputar um torneio, foi campeão. Quando voltou, aí já foi convocado pela seleção de base do Brasil. Quando retornou do Mundial sub-20, já surgiu a oportunidade de ir pra Espanha”, conta Nei.

Seis temporadas no Sevilha. E, em 2008, Barcelona. O vampiro baiano, o agricultor de Salitre, o predestinado.

“Eu tive que deixar meus pais aos 14, 15 anos pra tentar ser alguém na vida. O final foi bastante feliz”, reconhece Daniel.

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